sábado, 26 de julho de 2008

Capítulo II

Maria era mulher sonhadora e todos os seus sonhos a tinham transformado numa escritora de sonhos, de romances de sonho e de relações de sonho repletos de tons rosa e de corações de algodão doce. Toda vida idealizou vários mundos que eram dela, sempre sonhou ser aquilo que não é, sempre quis fazer tudo aquilo que nunca fez. Todas estas impossibilidades e sonhos idealizados apenas a ajudaram a criar vários mundos imaginários e várias personagens que vivem nesses mundos.

Contudo, Maria tinha esgotado o seu lote de personagens, o seu stock de mundos porque, na verdade, todos os seus livros deixaram de fazer sentido para ela. Aqueles mundos não existiam e só os sonhos mais ridículos poderiam criar mundos tão irreais e impossíveis. Maria deixara de acreditar na sua própria escrita, deixara de querer criar mundos para os seus leitores poderem se refugiar. Ela própria queria deixar de viver esses seus mundos imaginários que em nada correspondem ao mundo real. Mas, o mundo real existe e Maria criava os seus mundos para uma editora que não aceitaria esta sua nova realidade.

Contudo, o problema não seria só o facto de Maria deixar de acreditar nos mundos que criava. Deixar de acreditar no que se escreve implica não se conseguir mais escrever da mesma forma e isso implicaria abandonar a escrita, ou pelo menos o estilo de escrita tão característico de Maria.

Maria estava desolada sem saber o que escrever, sem saber o que dizer aos seus superiores como desculpa…sem saber o que fazer para continuar a viver. A pressão era imensa, os prazos começavam a chegar e a inspiração para escrever cada vez mais distante, as palavras teimavam em não responder aos estímulos inspirativos de Maria.

Branco, tudo se resumia a uma página em branco. Não só a escrita de Maria como também o seu pensamento.

Desolada, enraivecida consigo própria não conseguiu encontrar uma solução senão viajar para um lugar distante, talvez um lugar paradisíaco fosse o ideal para avivar a sua vontade de escrever romances cheios de juras de amor e promessas de amor eterno.

E assim fez. Falou com os seus chefes e eles concordaram desde que fosse para o bem da editora e para o sucesso do próximo livro de Maria.

Capítulo I

Mais um dia… é apenas mais um dia! Não um dia de sol, nem um dia de chuva… é apenas mais um dia.

Acordo! Meus olhos percorrem as mesmas paredes todos os dias como forma de reconhecimento de um lugar que não muito mais tem para dar a conhecer. Tudo permanece igual... Nada mudou de lugar. A noite apenas deu lugar ao dia e mais uma noite passou, assim como mais um dia povoado de horas irá terminar e dará de novo lugar à noite. Como a vida se pode tornar tão maçadora… Até o próprio barulho que vem da rua é o mesmo, carros a passar, pessoas a falar da vida dos outros quando na verdade só não querem falar da própria vida porque esta também já não lhes agrada… Como posso eu me encontrar neste estado tão vazio, sinto que nada faz sentido, como se fizesse parte de um puzzle do qual já não faço parte, como se fosse uma peça fundamental a qual do dia para noite deixou de ter lugar para aquele puzzle, deixou de ter as características fundamentais para completar aquele quadro.